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Cearense de Santa Quitéria é um dos 10 brasileiros selecionados para fazer mestrado nos EUA

Em um pequeno assentamento da reforma agrária no interior do Ceará, onde o acesso à educação nem sempre é fácil, Rogério Bié, 24 anos, escreveu uma história que vai além das fronteiras locais. Filho de agricultores que não concluíram o ensino fundamental, Bié tornou-se o primeiro de sua família a conquistar um diploma universitário — e agora prepara-se para fazer mestrado nos Estados Unidos, carregando consigo a esperança de uma comunidade que acredita no poder transformador da educação.

Criado por Vanuzia Bié e Antônio Moura, que cultivam a terra com dedicação, Rogério aprendeu cedo que o estudo era a chave para novas possibilidades. “Meus pais nunca tiveram escolaridade, mas sempre me ensinaram que a educação abre portas”, conta. A comunidade de Santa Quitéria, marcada por desafios socioeconômicos e ambientais, também foi fundamental. “Lá, vi como a falta de voz afeta as pessoas. Isso me motivou a buscar ferramentas para mudar essa realidade”, diz.

A trajetória de Bié começou a ganhar contornos internacionais ainda no ensino médio, quando estudava na Escola Estadual de Educação Profissional Monsenhor Luís Ximenes Freire. Após encontrar um dicionário inglês na casa da tia, mergulhou no aprendizado autodidata do idioma. O incentivo veio da professora Armana Mesquita, que lhe emprestou livros e orientação emocional. Em 2017, foi selecionado para o programa Jovens Embaixadores , que levou 50 estudantes brasileiros a um intercâmbio nos EUA. “Ficar três semanas com uma família indiana em Nova Jersey foi um divisor de águas. Percebi que sair do sertão não era um sonho impossível”, relembra.

De volta ao Ceará, encarou o Enem e ingressou no curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza. Na universidade, aprimorou seu olhar crítico sobre questões sociais e ambientais, influenciado pela luta de sua comunidade contra os impactos da mineração. Seu trabalho de conclusão, o documentário Filhos do Vento , denunciou os efeitos de parques eólicos na comunidade quilombola do Cumbe, em Aracati. “O jornalismo me ensinou a dar voz aos invisíveis”, afirma.

Enquanto estudava, trabalhou na Secretaria da Educação do Estado (Seduc), onde ajudou a amplificar histórias de estudantes da rede pública. “Minha própria trajetória me mostrou como é possível transformar realidades com acesso à informação e oportunidades”, explica.

Após quase dois anos de processo seletivo exaustivo — com provas, entrevistas e estudos em ônibus e madrugadas —, Bié foi um dos 10 brasileiros escolhidos para o Programa Oportunidades Acadêmicas do EducationUSA. Em agosto, embarca para a Universidade do Estado do Arizona, em Los Angeles, onde fará mestrado em Narrativas e Mídias Digitais. A bolsa cobrirá pelo menos um ano e meio de estudos, podendo estender-se a cinco anos com possibilidade de doutorado.

“Quero aprender para depois voltar e contribuir com Santa Quitéria. Acredito que histórias bem contadas podem mobilizar mudanças”, diz. Para a família, que cultiva orgulho e saudade, o sentimento é de vitória. “Eles sabem que levo comigo o legado de quem nunca desistiu”, conclui.

A história de Rogério Bié é mais que uma trajetória individual: é um retrato da força de comunidades que, mesmo diante das adversidades, apostam na educação como alavanca social. Seu exemplo inspira jovens cearenses a sonharem alto — e a acreditarem que, com perseverança e apoio mútuo, até os horizontes mais distantes podem ser alcançados.

 

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